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Delito de Opinião

A "caixa de Pandora" de Cameron

João Campos, 13.01.10

Diz a crítica e o público que o ponto fraco de Avatar, a mais recente odisseia cinematográfica de James Cameron, é o argumento - pouco original, desinspirado, com influências óbvias (há quem fale mesmo em cópia) de filmes como Danças com Lobos, Mononoke-hime ou Pocahontas, e uma grande dose de "ambientalismo". A verdade é que também o mais premiado filme de Cameron, Titanic (ganhou onze Óscares, feito só igualado por Ben Hur e O Senhor dos Anéis: O Regresso do Rei), tinha um argumento tudo menos original: combinava o cliché boy meets girl com um toque de "luta de classes" (rapaz pobre conhece rapariga rica), e colocava ambos os clichés na tragédia do transatlântico Titanic - que, tragicamente, passa para segundo plano (é preciso esperar duas horas para o barco começar a afundar). O argumento de que o argumento - passe a redundância - é pobre, para mim, não convence. É importante, claro, mas creio que, acima de tudo, importa que um filme tenha uma história bem contada. E se há coisa que Cameron faz bem é precisamente isso - contar histórias, e contá-las bem.

A meu ver, Avatar é precisamente isso: uma história relativamente simples, visualmente sólida e muito bem contada. Sim, já foi contada antes (de outras formas). E tornou a sê-lo agora, numa excelente adaptação ao género de ficção científica - e se é verdade que, enquanto filme, não chega ao patamar de 2001: A Space Odyssey ou Star Wars, não creio que seja isso que o tornará menos influente no seu tempo do que aqueles foram. Visualmente, o filme é deslumbrante, e impressiona como poucos - pelos cenários, pela atenção ao detalhe, pelo realismo das cenas de batalha. Mas o realismo de Avatar vai mais longe, e pela primeira vez foi possível conceber personagens em animação 3D com rostos e gestos verosímeis, capazes de transmitir emoções (compare-se com a curta The Last Flight of the Osiris ou mesmo com o filme Final Fantasy: The Spirits Within). Está ainda para saber se Cameron abriu ou não uma "caixa de Pandora" no que diz respeito às potencialidades visuais do cinema. Veremos.

De resto, e voltando ao argumento, Avatar fez-me pensar mais noutras influências, mais próximas do género fantasia que ficção científica, que não aquelas mencionadas à exaustão. O suposto "ambientalismo militante" do filme passou-me ao lado - o que leva os Na'vi a defenderem a sua floresta não é ambientalismo, é muito mais do que isso, mas esse é um tópico que para já não irei aprofundar por não querer incluir aqui spoilers.

A verdade é que o género ficção científica não teve, ao longo da década, o brilho de outros tempos - apesar de terem saído alguns excelentes filmes, como as duas sequelas de Matrix - Reloaded e Revolutions, ou Serenity. É por isso bom voltar a ter, em Avatar, um excelente épico de ficção científica. Daqueles que realmente justificam a ida a uma boa sala de cinema - com ou sem 3D. O que, nos dias (e nos torrents) que correm, vai sendo cada vez mais raro.

 

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