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Delito de Opinião

A questão da inconsistência

Pedro Correia, 10.12.09

 

Invejo o Pedro Lomba pelo mais elementar dos motivos: ele é um homem de certezas. Informa-nos este excelente articulista do Público que desfez as últimas dúvidas "sobre a ausência de convicções" de Pedro Passos Coelho ao ler a entrevista que o único candidato assumido à presidência do PSD deu no domingo ao Jornal de Notícias. E porquê? Porque, espantosamente, Passos Coelho quer agora "suspender o TGV", em "alinhamento com o discurso seguido por Ferreira Leite no último ano". Mais informa o Pedro Lomba neste seu artigo intitulado «A questão do carácter» que em Janeiro, em entrevista à RTP, Passos Coelho não pensava como hoje e terá mesmo dito que "o TGV é um projecto estratégico que envolve compromissos assumidos por vários governos".

Verdadeiramente escandaloso. "Há nisto todo um método que é bem revelador da inconsistência e falta de convicções que abundam na política portuguesa", sentencia o Pedro Lomba, acrescentando que Ferreira Leite "até tinha razão sobre o TGV".

O exemplo, por acaso, não é dos mais felizes. Por este simples motivo: esquece o ilustre articulista de referir que ninguém mudou tão radicalmente de opinião sobre o TGV do que a própria Manuela Ferreira Leite. "Ausência de convicções", "inconsistência"? É precisamente isso que podemos apontar a quem em 2004, enquanto ministra de Estado e das Finanças acordou solenemente com as autoridades espanholas um traçado completo para o TGV , prevendo o arranque deste megaprojecto no Orçamento de Estado desse ano, e em 2008, quando ascendeu à liderança do partido, rasgou o compromisso como governante que celebrara com Madrid sobre a alta velocidade ferroviária.

Lamento informar o Pedro Lomba, mas não foi Passos Coelho que mudou 180 graus nesta matéria, desdizendo na oposição o que dissera no Governo. Não foi Passos Coelho que declarou em 2004 que o TGV estimularia a economia portuguesa até 1,7% do produto interno bruto - foi o primeiro-ministro da época, Durão Barroso. Quem mudou foi precisamente Manuela Ferreira Leite, ministra de Barroso. Talvez por não gostarem de tamanha "inconsistência", os portugueses recusaram dar-lhe a vitória a 27 de Setembro.

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