A economia na minha rua
Primeiro foram-se embora os chineses. Partiram de repente, numa noite, deixando ocas as grandes lojas, antes cheias de tarecos coloridos. Depois foi-se embora o merceeiro, numa tarde o senhor Ildefonso despediu-se das velhas chorosas e partiu para a terra na carrinha Ford vermelha a deitar fumo pelo escape. A dependência do Deutsch Bank, que enchia a rua de orgulho com o seu toque cosmopolita, passou a estar de porta fechada; é preciso bater para ver assomar a cabecinha da funcionária que depois vem a chinelar, em soca de descanso, com um molho de chaves a rodopiar na fechadura. Por isso, quando se viu que uma nova loja abrira as cabeleireiras brasileiras pararam de esticar o cabelo umas às outras, as velhas enxugaram as lágrimas pelo senhor Ildefefonso e a rua toda foi espeitar a abertura da boutique dos angolanos. Espero que o facto de ao cabo de uma semana ninguém ter comprado uma capulana sequer não os faça desanimar, porque estou cansada de metáforas.