Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

Freitas do Amaral e o baralho

João Carvalho, 29.01.09

Sobre o caso Freeport e as recentes declarações de Freitas do Amaral, o Ricardo S. distingue-me aqui com um belo naco de prosa. O título «Quero tanto, tanto, tanto!...» ilustra a ideia peregrina de que eu estou com os «que desejam que Sócrates seja mesmo culpado» e pretende-se resposta a este meu post.

Boa tentativa, a do Ricardo S., mas não mais do que isso: só uma tentativa. Não meti Freitas do Amaral no «saco daqueles que vieram a público defender Sócrates»; foi ele que entrou sozinho. Vejamos.

 

1. Ele não encontrou nada ilegal no polémico licenciamento porque entendeu ficar-se pela distância no tempo entre a aprovação do outlet e a entrada em vigor das alterações à zona protegida. Só que também entendeu ignorar que uma coisa e outra foram submetidas ao mesmo conselho de ministros, segundo notícia que já então circulava abundantemente. Acontece que o primeiro culmina com um simples despacho e o outro demora a tramitação habitual de um diploma até ser publicado em Diário da República e entrar em vigor.

2. O aspecto acima não favoreceu, portanto, a douta conclusão que ele tirou: «do ponto de vista do Direito administrativo, não encontro nada que possa ser considerado ilegal, a menos que a partir de amanhã surjam dados novos que não conheço». Ora, como muito bem diz o Ricardo, «Freitas do Amaral não foi ouvido apenas como político e antigo Ministro do governo de Sócrates». Pois. Não foi apenas, mas foi também. Correu esse risco e correu-lhe mal a lição.

3. Depois, há uma coisa em Freitas do Amaral com que eu embirro solenemente e nem escondo: aquele ar de enfado, aquela manifesta maçada de ter de explicar minudências aos simples mortais como se estivesse a servir a sopa dos pobres a um sem-abrigo que não usou desodorizante nem lavou os dentes. O problema que ele enfrenta (não foi a primeira vez e vaticino que não será a última) é que há alguns mortais habituados a pensar; mesmo sem a pretensão de dar lições de Direito administrativo, percebem alguma coisita de ginástica de cintura.

 

Há muito que lamento que Freitas do Amaral se disponha a estes jogos em que baralha as cartas de Professor de Direito com as de político de parte incerta e ex-ministro de Sócrates. Esse baralho é viciado e acompanhado por aquelas poses insuportáveis. Ele deve achar isso útil para confundir os simples mortais, por certo. E, pelos vistos, com relativo sucesso, como fica provado pela apreciação do Ricardo...

14 comentários

Comentar post